A resposta é não.
Quem já pratica esportes de alta intensidade há algum tempo possivelmente já foi indagado com alguma frase parecida: “Nossa você pratica esportes de alta intensidade, não tem medo de se machucar?“.
Bem, como ortopedista esportivo, pesquisador, amante do esporte e médico de muitos atletas praticantes de esportes de alta intensidade, também me fiz essa pergunta. Contudo, movido por essa questão, resolvi pesquisar o que a medicina, baseada em evidências, tem a dizer sobre o tema. A grata surpresa foi a grande quantidade de artigos publicados sobre esportes de alta intensidade na literatura médica. Mais ainda, encontrei uma boa base de trabalhos de qualidade publicados por brasileiros em periódicos internacionais, colocando nosso país como referência mundial para o estudo desse esporte.
A ideia deste texto é trazer, à luz da ciência, a verdadeira informação sobre o risco de lesões músculo esqueléticas na prática dos esportes de alta intensidade. De antemão, já vamos responder a pergunta mais inquietante: Praticar esportes de alta intensidade aumenta o risco de se ter uma lesão articular? A resposta é: Não mais do que qualquer esporte competitivo. Na verdade, o risco de lesão praticando esportes como futebol e basquete chega a ser 3 vezes maior que nos esportes de alta intensidade. Já quando comparado com musculação, por exemplo, o risco de lesão é exatamente o mesmo. Ou seja, a prática de esportes de alta intensidade, na verdade, tem um risco de lesão muito menor que muitos esportes competitivos.
Os problemas articulares nos esportes de alta intensidade acometem os praticantes, com maior frequência, nos primeiros 6 meses de treino, isso é causado principalmente pelo erro de execução dos movimentos básicos. Quanto as articulações mais frequentemente lesionadas são, respectivamente, ombros, coluna lombar e joelhos. Nesse contexto, é de suma importância o papel do coach, do material e ambiente de treino pensados para a estratégia de prevenção. Mais ainda, no começo da prática, existe uma relação direta entre o risco de lesão e a frequência de treino, assim cabe ao coach modular o ímpeto do atleta.
Quanto ao aspecto da gravidade nas lesões, mais um fator que dissocia de outros esportes competitivos é o fato de que apenas 1% delas tem potencial cirúrgico, sendo que a grande maioria dos problemas tendem a ser resolvidos, com o tratamento clínico, em até 6 semanas.
Outro ponto interessante é que boa parte dos atletas que iniciam as atividades no Box já tem experiência atlética esportiva anterior, assim sendo, cerca de um terço das lesões atribuídas à prática do WOD são exacerbações de problemas prévios. Dessa forma entende-se que apenas um terço das lesões, excluído o erro de técnica, execução e lesões anteriores tem sua origem essencialmente na prática exclusiva dos esportes de alta intensidade.
Postos os possíveis potenciais lesivos de frequentar um Box, vale muito a pena ler mais um pouco para entender todos os benefícios. Muitos artigos falam em mudanças articulares, como aumento do colágeno, da espessura e qualidade dos tendões e aumento da cartilagem, em joelhos, tornozelos e ombros. Outros tantos falam das vantagens no controle do diabetes, hipertensão, obesidade, dislipidemia. Até mesmo um ótimo artigo publicado no periódico da academia americana de cardiologia, falando da segurança e benefícios para a prática de pacientes com sérios problemas no coração.
Além do aspecto de melhora na composição corporal há aprimoramento de parâmetros psicofisiológicos e psicossociais. Dados sugerem que a prática dos esportes de intensidade está associada a níveis mais altos de senso de comunidade, satisfação e motivação.
Fica claro que a literatura médica aniquila a ideia de que se dedicar aos esportes de intensidade traria preocupações consistentes quanto ao fato de ser uma atividade que promova mais lesões ortopédicas, quando comparado a outras práticas esportivas.
Como conclusão, é fato entender que o médico do século XXI não deveria recriminar o esporte, mas sim aprender a prescrever o exercício, com muito mais benefícios que boa parte das medicações.
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