Desde o início do CrossFit, a modalidade teve uma relação bem “íntima” com os militares. Em parte pelo estilo de treinamento, em parte por grande parte das pessoas que aderiram no começo serem militares, em parte pelo local onde nasceu, entre outros fatores.
Justamente por causa disso, criou-se a cultura de homenagear pessoas que faleceram em serviço, abrindo mão de suas próprias vidas para salvar sua equipe e, muitas vezes, sua pátria.
Essa homenagem é feita através dos “Hero WOD’s”, que numa tradução direta seria algo como Treino dos Heróis, e eles são feitos com base no que as pessoas homenageadas gostavam de treinar, então esse treino de 1 milha de corrida, 300 agachamentos, 200 flexões, 100 barras e mais 1 milha de corrida, usando um colete de 9 kg era o favorito do Tenente Michael Murphy.
Não dá para falarmos desse treino, sem falarmos um pouco do ato heróico dele, então vou pegar um breve resumo do site da Fundação Murph.
“Em 28 de junho de 2005, o tenente Murphy era o oficial encarregado de uma equipe SEAL de quatro homens em apoio à Operação Red Wing, encarregada de encontrar o comandante chave da milícia anti-coalizão perto de Asadabad, Afeganistão. Logo após a inserção na área do objetivo, os SEALs foram vistos por três pastores de cabras que foram inicialmente detidos e depois liberados. Acredita-se que os pastores de cabras relataram imediatamente a presença dos SEALs aos combatentes do Talibã.
Um tiroteio feroz se seguiu na face íngreme da montanha entre os SEALs e uma força inimiga muito maior. Apesar da intensidade do tiroteio e de sofrer graves ferimentos a bala, Murphy é creditado por arriscar sua própria vida para salvar a vida de seus companheiros de equipe. Murphy, com a intenção de fazer contato com o quartel-general, mas percebendo que isso seria impossível no terreno extremo onde eles estavam lutando, sem hesitar e e sem se preocupar com sua própria vida, mudou-se para o campo aberto, onde poderia obter uma posição melhor para transmitir um chamado e obter ajuda para seus homens.
Afastando-se das rochas protetoras da montanha, ele conscientemente se expôs ao tiroteio inimigo. Este ato deliberado e heróico privou-o de cobertura e fez dele um alvo fácil. Enquanto continuava a ser alvejado, Murphy fez contato com a Força de Reação Rápida SOF na Base Aérea de Bagram e solicitou assistência. Ele calmamente forneceu a localização de sua unidade e o tamanho da força inimiga enquanto solicitava apoio imediato para sua equipe. Em um ponto, ele foi baleado nas costas, fazendo com que ele deixasse cair o transmissor. Murphy pegou de volta, completou a chamada e continuou atirando no inimigo que estava se aproximando. Gravemente ferido, o tenente Murphy voltou para sua posição de cobertura com seus homens e continuou a batalha.
Como resultado da ligação de Murphy, um helicóptero MH-47 Chinook, com oito SEALs adicionais e oito Army Night Stalkers a bordo, foi enviado como parte do QRF para extrair os quatro SEALs em apuros. À medida que o Chinook se aproximava da luta, uma granada lançada por foguete atingiu o helicóptero, fazendo com que ele caísse, matando todos os 16 homens a bordo.
No chão e quase sem munição, os quatro SEALs continuaram a lutar. No final de um tiroteio de duas horas que desceu pelas colinas e penhascos, Murphy, o companheiro de artilharia de 2ª classe (SEAL) Danny Dietz e o técnico de sonar de 2ª classe (SEAL) Matthew Axelson haviam caído. Estima-se que 35 talibãs também morreram. O quarto SEAL, Hospital Corpsman 2nd Class (SEAL) Marcus Luttrell, foi lançado sobre um cume por uma granada propelida por foguete e ficou inconsciente. Embora gravemente ferido, o quarto SEAL e único sobrevivente, Luttrell, conseguiu escapar do inimigo por quase um dia; depois disso, cidadãos locais vieram em seu auxílio, levando-o para uma aldeia próxima, onde o mantiveram por mais três dias. Luttrell foi resgatado pelas forças dos EUA em 2 de julho de 2005.
Por sua coragem destemida, intrépido espírito de luta e devoção inspiradora a seus homens em face da morte certa, o tenente Murphy conseguiu transmitir a posição de sua unidade, um ato que acabou levando ao resgate de Luttrell e à recuperação dos restos mortais. dos três que foram mortos na batalha.
O tenente Murphy foi enterrado no Cemitério Nacional de Calverton, a menos de 32 quilômetros de sua casa de infância. Outros prêmios pessoais do tenente Murphy incluem o Coração Púrpura, a Fita de Ação de Combate, a Medalha de Comenda do Serviço Conjunto, a Medalha de Comenda da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais, a Fita da Campanha do Afeganistão e a Medalha do Serviço de Defesa Nacional.”
—Fundação Murph
Benefícios do Treino Murph
O Murph é um treino bem completo, então ao falarmos de benefícios podemos elencar, principalmente o fator cardiovascular, a capacidade aeróbia, mas também a resistência muscular localizada, pelo alto volume consecutivo de exercícios ginásticos, que se torna ainda mais relevante quando o treino é feito de colete.
Além dos benefícios físicos, também gosto de ressaltar um grande benefício mental, que é se desafiar a fazer algo demandante e desgastante como esse treino e, ao terminar, ter aquele senso de realização.
Treino Murph para iniciantes
Uma das grandes belezas do CrossFit é que é uma modalidade completamente inclusiva, independentemente do nível de condicionamento físico da pessoa, ela pode entrar em uma aula e fazer o treino da lousa, claro que adaptado, escalonado, de acordo com a sua realidade, e com o Murph não é diferente.
É claro que um iniciante não vai fazer o Murph completo, muito menos de colete, mas ele pode sim fazer um Murph.
Vamos a alguns exemplos de escalonamento, ao invés de 1 milha, 300, 200, 100, 1 milha, a pessoa pode fazer, 800m, 10 séries de 10 agachamentos, 5 flexões e 5 remadas na argola, e mais 800m de corrida.
Também existe a opção de fazer em dupla, enquanto um faz o outro descansar, e esse descanso obrigatório diminui consideravelmente a intensidade, tornando totalmente possível e até recomendável para pessoas com um certo nível de condicionamento.
Treino Murph para atletas experientes
Já para atletas experientes, não se trata mais sobre o volume, todos vão fazer o treino completo e de colete, se trata sobre a velocidade com a qual conseguem terminar todo o trabalho proposto.
Em edições dos CrossFit Games, já vimos os melhores atletas do mundo terminando em menos de quarenta minutos, tanto feito da maneira tradicional (total de repetições direto), quanto da maneira particionada (total de repetições dividido em rodadas).
Como evitar lesões durante o Murph
A melhor e principal maneira de evitar lesões no Murph é fazendo de uma maneira que esteja de acordo com o seu nível atual de condicionamento físico, ou seja, fazendo o adaptação, ou escalonamento, correto.
Também é importante ter um bom padrão técnico, primeiro que consiga manter a qualidade nas repetições mesmo sob fadiga, e por último, respeitar o limite do seu corpo, ou seja, não exceder o quanto consegue aguentar.
Perguntas frequentes Sobre o Treino Murph
Dá para fazer o Murph todos os dias?
De jeito nenhum. Um treino como o de Murph é muito desgastante e ao fazê-lo todos os dias as chances de uma lesão são enormes.
É necessário o uso de equipamentos no Murph?
De equipamento de treino você só vai precisar de uma barra, e caso opte por fazer de colete, de um colete, mas eu também recomendo o uso de um acessório, o Grip ginástico, para não abrir a mão nas barras.
Quais são os riscos do treino Murph?
Seguindo as recomendações elencadas acima e sob a supervisão de um bom treinador, os riscos são praticamente zero. Caso durante a execução sinta algum desconforto, é só parar.
Conclusão
Concluindo, o Murph é um ótimo treino, mas como dito anteriormente, faça sob supervisão de um bom treinador e de uma maneira condizente com o seu condicionamento físico atual. Para fechar, algo que eu sempre gosto de relembrar aos meus alunos ao fazermos um “Hero WOD” é que não é qualquer treino, é um treino em homenagem a alguém que se sacrificou em prol de algo, então não aceito menos que 100% de entrega, vontade e dedicação.